25 de julho de 2011

Hoje é dia do escritor





        Numa entrevista, Ignácio de Loyola Brandão, à pergunta sobre qual seria o papel do escritor no Brasil, respondeu que "o papel do escritor no Brasil, ou no mundo, ou na lua é escrever. Nada mais do que isso. Escrever. O escritor não tem missões, não tem mensagens, não tem funções".
Talvez ele queira dizer que o escritor não precisa ser o redentor do mundo, o salvador da pátria ou o libertador da lua; não tem a missão de solucionar problemas e não carrega em seu coração a mensagem essencial dos santos e revolucionários.
        Um escritor não precisa cumprir uma função específica que escape à sua intrínseca função de escrever o que bem entenda, embora aconteça com muitos de nós precisarmos escrever "em função" da estrita sobrevivência. Cumprindo uma responsabilidade, escrevemos coisas meio burocráticas, meio publicitárias, um livro contando a história de uma empresa, a resenha de um livro que não seria o nosso preferido... Enfim, mas estamos escrevendo. E com muita honra.
Nada de errado escrever para sobreviver. Contanto que, depois, à noite, alta madrugada, seja a hora em que o escritor escreva a indignação, o silêncio, o grito, o muxoxo, o sussurro. Nesta hora o escritor sofrerá ou gozará com o gosto de cada palavra.
         Depois de escrever cartas comerciais durante o dia, por exemplo (como Fernando Pessoa), é a hora de viver no mundo outro do texto. Apesar de não haver tantos moinhos como antigamente por aí, D. Quixote precisa sair em busca de novas aventuras.
       Eu, porém, diria que todo o ser humano tem missões, mensagens e funções, mesmo que sejam as mais quixotescas e ingênuas do mundo. E que o escritor, como qualquer ser humano, tem as suas.
          E a missão do escritor é, sim, ser escritor.
          E a mensagem do escritor se confunde com sua função: escrever é viver.
      Agora, dia 25 de julho, é dia do escritor. Descobri folheando a minha agenda. E decidi comemorar a data imaginando que tipo de presente um escritor gostaria de receber.
Um computador novo? Um crédito para comprar cem livros em qualquer livraria do mundo? Um mês de férias para, em paz, escrever um romance? Ou uma tradicional caneta tinteiro?
Pensando bem, o grande presente para o escritor continuará sendo o mesmo de todos os tempos: os seus leitores.





Deixo aqui o poema de uma grande escritora que eu gosto muito.


PEDAÇOS DE MIM


Eu sou feito de

Sonhos interrompidos

detalhes despercebidos

amores mal resolvidos


Sou feito de

Choros sem ter razão

pessoas no coração

atos por impulsão


Sinto falta de

Lugares que não conheci

experiências que não vivi

momentos que já esqueci


Eu sou

Amor e carinho constante

distraída até o bastante

não paro por instante




Tive noites mal dormidas

perdi pessoas muito queridas

cumpri coisas não-prometidas


Muitas vezes eu

Desisti sem mesmo tentar

pensei em fugir,para não enfrentar

sorri para não chorar


Eu sinto pelas

Coisas que não mudei

amizades que não cultivei

aqueles que eu julguei

coisas que eu falei


Tenho saudade

De pessoas que fui conhecendo

lembranças que fui esquecendo

amigos que acabei perdendo

Mas continuo vivendo e aprendendo.

Martha Medeiros